terça-feira, 25 de agosto de 2009

Semi-ótica, um conto.

Nem bem terminou o “serviço”, uma gozada plastificada de quatro que deu pro gasto num buraco quente e úmido, Edgar começou a passar mal. A mulher no banco ao lado, uma prostituta, vestia a calcinha, punha a blusa, a saia, e olhou com olhos arregalados aquele sujeito que conhecera meia-hora antes na porta da boate. Ele nem bem pôs a cueca de volta, começou a se estrebuchar, a contorcer o pescoço e da boca: parecia sair uma baba visguenta como mingau de milho verde. Seu corpo todo se debatia numa tremulação assemelhada a um ataque epiléptico.

- Meu dinheiro, moço! Meu dinheiro! – ela ainda chegou a dizer num misto de súplica e horror na cara de 18 anos moldada numa aparência de 25.

Mas o cara somente emitia alguns sons guturais, ininteligíveis, e babando gosmento levantava um dos braços com a mão trêmula em direção da mulher que, em defesa, pavor e nojo, se afastou às pressas e apavorada, coletando o resto de seus trastes. Abriu a porta do carro num repente e saiu em disparada esquinas escuras abaixo, enquanto o sujeito grunhia todo torto espremido entre o banco do motorista e o volante do automóvel. Gemia alto.

Na fuga, a mulher deixou para trás o pé esquerdo de um par de sandálias melissa e a porta do veículo escancarada. Largado assim à própria sorte – ou à morte, numa prova da falta de solidariedade entre os seres humanos – Edgar ergueu o corpo e, cautelosamente, ainda de esguelha, examinou pelo espelho retrovisor a imagem fugidia da prostituta que corria nas sombras em debandada, virando a primeira esquina e sumindo para sempre na cidade da Baía de Todos os Santos e mijadas.

Ele, então, parou de fingir e olhou no relógio às duas da madruga.
Fechou a porta do carro, ajeitou a roupa, ligou a ignição e voltou para casa. Relaxado, daria aula de Semiótica na manhã seguinte.


(Fernando Conceição).

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