sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Manhã primeira



No primeiro instante os olhos atentos, observadores, logo após aquele frio diante do novo, depois a sensação da casca rompida.

O despertador tocava às seis horas da manhã de uma segunda-feira, era o meu adeus às manhãs despreocupadas de afazeres rotineiros, sem hipocrisia, pensava mais nisso do que propriamente na idéia de “volta às aulas”. Certamente as coisas mudariam muito, mas apesar dos densos ares e a sensação da fruta muito verde, era bom sentir aquele gostinho estranho. As explicações me fugiam e eu não fazia questão de correr por elas, era apenas o corpo falando e me provocando sensações diversas.

Adentrei pelo mesmo caminho que outrora parecia não me pertencer, peguei um cigarro e passei a caminhar como a fumaça que fugia lentamente com o vento. Olhava tudo com muita calma, inclusive a infinidade de rostos desconhecidos, uns nervosos, ansiosos, outros leves e tantos outros mais. A varanda, as salas de aula, o refeitório, olhava tudo como quem procura o reflexo de si nas coisas e encontra. Sentia-me confortável, era ali que eu deveria estar, porque era ali que eu queria estar e isso me preenchia. A insegurança permeava por entre meus questionamentos, esses embrulhos normais que temos quando nos postamos diante do desconhecido, mas nada que vazasse meu contentamento e plenitude de estar onde eu estava.

Andava cheia de duvidosas certezas, como que afirmada numa cadeira postada frente a um vidro embaçado. Exposta aos desconhecidos quatro longos anos – ou mais - de descobertas, encontros, desencontros e frustrações.



Camila Brito

Pintura de M.C. Escher

Um comentário: